quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Garganta Azul



"Há muito tempo atrás, deuses e demônios estavam engajados numa luta sem quartel pela supremacia e pela conquista da imortalidade. Nessa guerra, a arma definitiva seria o Amrita, o néctar da imortalidade, que jazia no fundo do Oceano.
No entanto, todo o poder dos deuses, inimaginável para nós, mortais, era insuficiente para extrair o Amrita das profundezas. Ainda mais, quando os demônios estavam concentrados na mesma tarefa e boicotavam o esforço dos deuses.
Brahma, o Deus Criador, conclamou então um encontro para resolver a questão. Acordou-se que deuses e demônios cooperariam entre si, ao invés de lutar. 
Vishnu assumiria a forma de Kūrma, uma tartaruga gigante e sobre suas costas, os demais deuses colocariam o monte Mandara, e ele desceria carregando essa montanha até o fundo do Oceano com o deus-serpente Vasuki, enroscado ao redor da montanha, que serviria como corda, puxada alternadamente por deuses e demônios, cada grupo ficando numa das beiras do Oceano. 
Desta maneira, Kūrma, girando alucinadamente com os braços e as pernas abertos, trabalhou como uma espécie de liquidificador gigante, que espalhou as águas do Oceano em todas as direções, fazendo com que os tesouros submersos nele desde o início dos tempos, viessem à superfície. 
A tarefa estava dando muito certo, até a aparição do Veneno.
Shiva estava meditando no alto do Himalāyā. Deuses e demônios foram lhe rogar para serem salvos daqueles vapores letais. 
Ele aquiesceu e bebeu o veneno, ficando com a garganta colorida de azul. É por isso que ele é chamado Nīkalantha, o da Garganta Azul.
O desapego de Shiva perante a vida e a morte é absolutamente aterrador. 
Ao beber o veneno, ele salva o Universo. Ao absorver em seu próprio organismo o veneno do mundo, ele redime a Humanidade.” 

*versão de Pedro Kupfer

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