quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O prana como eletricidade



Um excerto da nova reimpressão comentada do Hatha Yoga Pradipika
por Swami Vishnudevananda
Seu corpo físico é como uma máquina. Nele correm dois tipos de energia: energia química, que vem do alimento, e energia psíquica (chamada prana) proveniente de todos os objetos que absorvemos: comida, água, ar e luz solar. Estas são as fontes de nosso prana e elas são encontradas em toda a natureza. O prana também existe no vácuo, no subsolo e até mesmo na água. Entretanto, não é algo químico, é de natureza elétrica. Seu corpo é um armazém de prana e o sistema sanguíneo (sistema circulatório) atua como um transformador, redirecionando o prana do astral ao físico.
Os yogues não acreditam que o corpo existe meramente por causa de sua natureza fisioquímica; para eles o corpo é basicamente de natureza elétrica. Quando a conexão elétrica do astral para o físico é cortada (como uma bateria que se desconectada de um motor), não importa o quão potente o motor é, ele não pode ligar. 
Os impulsos do prana viajam através do astral para o físico por um cordão umbilical astral até nosso plexo solar. Quando este cordão é cortado, não pode haver mais prana no corpo físico. Se o prana flui em pequeníssimas quantidades então o corpo entrará em coma (inconsciência).
Compreendendo a natureza elétrica de nossos corpos, você entenderá o propósito do pranayama. Tentarei explicar em uma terminologia moderna, já que alguns dos termos ancestrais são de difícil alcance.
É dito que você pode bloquear o ar no Sushumna, na região da garganta, na região dos ouvidos, na região dos olhos. Na realidade, como você pode bloquear o ar nesses lugares, quando o ar que você inspira não passa de forma alguma por tais pontos? O que isto significa?
Na verdade, não é um bloqueio físico; é o desvio da energia de uma fonte para outra. No yoga, chamamos esta energia de prana. O problema é que não há um equivalente em Inglês/Português para esta palavra, desta maneira foi traduzido como ‘ar’. Mesmo os yogues indianos cometem esse erro quando não sabem como traduzir tal termo do Sânscrito.Gosto de explicar estas idéias utilizando analogias com termos eletrônicos. A maioria de vocês está familiarizada com aparelhos, como rádios, câmeras e computadores. Existem três componentes básicos, comum a todos eles. Coisas similares existem em nosso corpo, mas, por favor, não tome o que disse literalmente; fiz isso apenas para você compreender como essas coisas tais como ‘trancas’ trabalham no mecanismo do corpo. Quando você fizer pranayama, lhe ajudará enormemente em lidar com isto, se você entender tal processo. Três aspectos devem ser compreendidos: 1. Transformadores, 2. Condensadores e 3. Resistores.
Transformadores: Nos componentes eletrônicos há sempre uma fonte de força, normalmente uma bateria ou corrente doméstica. Um pequeno gravador não pode suportar a corrente de 110 volts que entra em uma casa, sendo assim, deve-se reduzir a voltagem através de um transformador, caso contrário os componentes 
queimariam (Existem transformadores para aumentar e reduzir a voltagem).
Condensadores (também chamados Capacitores) são armazéns de eletricidade. Um exemplo disto é o flash eletrônico em sua câmera. A eletricidade para o flash vem de uma bateria de 6 volts, mas a voltagem não produz luz suficiente para se fotografar. São necessárias muitas centenas de volts para criar uma luz 
intensa e, dessa forma, a energia proveniente da pequena bateria é armazenada (não é elevada ou reduzida) como um reservatório e acumulada até o momento em que possa criar um poderoso flash em um breve momento.
Resistores: Outro conceito na eletrônica que pode nos ajudar na compreensão é a noção de resistência. 
Nós podemos elevar ou reduzir a resistência de um fluxo de energia. A maioria das impurezas reduzirá o fluxo elétrico. Um exemplo é a conhecida mangueira pela qual a água flui em uma velocidade específica conforme obstruímos o esguicho d’água. A torneira segue forçando 16 galões de água por minuto através da 
mangueira, mas quando sua capacidade é reduzida pela constrição de seu orifício, a pressão aumenta e a água sai com muito mais força.
Em nosso corpo, existe algo similar a um condensador. O prana é como eletricidade, mas muito sutil. Toda a eletricidade corre através das redes de fiação e em no nosso corpo ela flui por meio dos nadis (ou os chamados meridianos no sistema Chinês). O problema aqui é que quando digo nervo, muitas pessoas entendem apenas o tipo visível de nervo. O nadi é o equivalente ao nervo no corpo físico, mas pode ser denominado tubo astral, já que não existe no físico, mas no corpo astral. Não serei capaz de expressar completamente todo esse tema em termos eletrônicos, mas há uma similaridade entre um nervo físico e seu nervo astral; eles são suas contrapartes. A diferença é que um é visível e o outro não.
Em nossos corpos, o impulso proveniente do cérebro através dos nervos vagos, os quais controlam o coração e os pulmões são todos impulsos chamados prana. Anteriormente, achava-se que o coração não era suscetível ao controle voluntário, que você não poderia controlar as batidas do coração pela concentração. 
Os yogues podem demonstrar que os batimentos cardíacos podem lentamente reduzir-se com a concentração ou por práticas comoJalandhara bandha. Eles cessam a operação do fluxo de prana. Nós não estamos falando de prana físico, mas de prana psíquico.
O pensamento pode mudar seu ritmo respiratório assim como as batidas do seu coração. Dois importantes componentes de seu corpo são conjuntamente denominados sistema cardiovascular, já que são interdependentes. Quando o corpo precisa de oxigênio extra, a marcha do coração se eleva. Para fazer com 
que o bombeamento dos pulmões se torne mais rápido, você deve estimular os músculos do diafragma e intercostais. Isto é produzido pelo cérebro. Em uma emergência, digamos que você esteja correndo porque um tigre o persegue e você está prestes a atingir exaustão, a glândula adrenal, através da adrenalina, fornecerá ao coração um estímulo extra para que assim os pulmões possam respirar um pouco mais rápido em um curto tempo. Isto é o equivalente ao capacitor nos aparelhos eletrônicos dos quais mencionei. A 
natureza nos ofereceu a habilidade de escapar de situações perigosas. Esta estimulação extra, ativa a glândula adrenal, que bombeia adrenalina na corrente sanguínea, para que assim o coração receba uma rápida excitação por um curto período e, dessa forma, possa bombear mais oxigênio aos músculos. Vamos tentar entender o sistema cardiovascular, para visualizar como o ritmo cardíaco e a respiração estão conectados.
Existe um aparelho chamado polígrafo ou detector de mentiras. Assim como o Eletro encefalograma (EEG) testa as ondas mentais, o polígrafo mensura os três componentes básicos mais conectados ao sistema nervoso autônomo, um sistema que basicamente está fora de nosso controle. Grosso modo, o sistema nervoso autônomo está além de nosso controle, entretanto, os yogues podem controlá-lo. No polígrafo, os três componentes básicos são:
1. Para demonstrar e medir seu padrão respiratório, quantos ciclos por segundo você está respirando (normalmente respiramos 16 vezes por minutos).
2. A pulsação (normalmente 75 ou 80 por minuto).
3. A resposta galvânica da pele. Abaixo de nossas glândulas sudoríparas existem nervos que carregam impulsos sensoriais.
Um dos três componentes básicos  em um polígrafo é a resposta galvânica da pele (RGP), medida pelas glândulas do suor, que sofre alterações de acordo com o seu pensamento. Em um teste de RGP colocando pequenos eletrodos nas pontas dos dedos (por exemplo), você pode capturar esta corrente  e amplificá-la verificando assim seu padrão. Isto está sujeito ao sistema nervoso autônomo.
Os técnicos em polígrafo também conectam certo tipo de elástico em seu peito ao polígrafo para que você veja o número de vezes que está respirando, ou como é o seu  padrão respiratório: superficial, longo ou perturbado. Em uma respiração normal nós inalamos aproximadamente 1500 cc de ar e exalamos a mesma quantidade gentilmente. No entanto, quando você está respirando profundamente, você pode colocar para dentro e para fora em torno de 2000 cc. Neste momento o impulso será muito forte. Quando você está mentalmente perturbado o padrão respiratório também sofrerá alterações.
Quando todos estes componentes são conectados ao polígrafo, nós observamos três ondas diferentes:
padrão respiratório, pressão sangüínea e resistência galvânica da pele. Após dois ou três minutos há uma leitura normal. Se repentinamente o polígrafo muda, isto é uma indicação de que a pessoa mentiu. Um transtorno emocional provocará uma mudança no padrão respiratório, digamos, de 16 tempos por minuto para 25 ou 30 por minuto. Isto pode subir ou descer. Em casos extremos a respiração ou o coração podem até mesmo parar, no caso de um choque ou de uma má notícia. Também com boas notícias: algo muito excitante – digamos que você ganhe 5 milhões de dólares na loteria – isto também pode parar o coração.
Em alguns casos, você está sobrecarregando o capacitor. Em um instante ocorre um curto circuito. A voltagem provinda dos nervos torna-se tão forte que isto gera um curto circuito em tudo: coração e/ou pulmões param, ocorrendo um colapso. Dessa forma, você percebe que seu corpo não é diferente de um 
mecanismo eletrônico.
O impulso eletrônico em nosso corpo é o prana. O prana vem ao sistema nervoso quando é armazenado pelos condensadores e transformado pelos transformadores. Existem cinco tipos básicos de prana: prana, apana, udana, samana e vyana, assim como pranas menores; a diferença entre os pranas menores e maiores é a voltagem. Mesmo em aparelhos eletrônicos, alguns precisam de alta voltagem e assim existem diferentes tipos de transformadores. No corpo nós chamamos estes transformadores de chakras. Vários nervos vem e vão através dos chakras, Eles não são físicos, mas astrais.
No corpo físico, os lugares onde estes nervos se reúnem na medula espinhal são chamados plexos. Eles são um tipo de cruzamento como uma central telefônica. Os plexos correspondem aos chakras. Este é o lugar onde a energia é armazenada como um condensador, alterada como um transformador e obstruída por um resistor. Todas estas coisas acontecem na mesma área.
Na maioria das pessoas, os transformadores nos chakras superiores não estão completamente abertos; talvez para estudantes avançados eles estejam parcialmente abertos. Ou se há uma tremenda quantidade de impureza, eles agem como resistores. Esta variação nos resistores é automaticamente controlada por seus pensamentos bem como sua dieta. Tudo é controlado pelo pensamento. De acordo com a natureza de seu pensamento, suas impurezas vão aumentar ou diminuir. Para cada um destes três aparelhos em seu sistema: condensadores, transformadores, resistores, todos são controlados por sua mente.
Dessa forma, os yogues vão diretamente a mente para mudar tal padrão. De acordo com a natureza do padrão de seu pensamento, a voltagem aumentará ou reduzirá. Se a voltagem aumentar, então a energia fluirá para um chakra superior. Se você reduzir a voltagem (produzir pensamentos densos de ordem sensual ou sexual), então a energia circulará apenas nos chakras inferiores, porque a voltagem não é suficiente para se elevar aos chakras superiores.
Lembre-se que nem o pensamento e nem o prana estão no corpo físico. Eles estão no corpo astral e de acordo com a natureza de seu pensamento, o prana fluirá no corpo físico. Quando seus pensamentos são muito densos, o prana ou elétrons que fluem para o corpo físico serão reduzidos, já que há muita resistência. Além disso, um nervo físico não pode suportar um poderoso pensamento, pois ocorrerá uma redução do prana até determinada extensão. O sistema nervoso que é impuro não pode transmitir altas voltagens. Algumas vezes, um repentino choque mental pode mesmo cortar este fluxo de prana. Outras vezes, esta corrente é lentamente reduzida a certa extensão que faz com que você pareça um cadáver vivo, em estado de coma.
O propósito último do Hatha Yoga é libertar-se das baixas voltagens e mover-se para uma voltagem mais elevada.
Hatha Yoga Pradipika
Este artigo é um excerto do Hatha Yoga Pradipika, o guia clássico para prática avançada em Hatha Yoga 
(Kundalini Yoga) com comentários de Swami Vishnudevananda.

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